bbb 
O reality show BBB, em uma de suas provas, puniu dois participantes com um castigo um tanto diferente: acampar e se vestir de escoteiro.
Os escoteiros, por óbvio, reagiram. Inundaram as redes sociais durante o fim de semana, condenando tanto o programa como a emissora. As mensagens passavam por pedidos de retratação até pedidos de milhões de reais em indenizações. Todas, porém, coincidiam: a associação nacional deve se pronunciar*.
Hoje (24/02, madrugada de domingo para segunda), Pedro Bial, apresentador do televisivo, se dirige aos brothers e, por 10 segundos, se refere aos escoteiros, em meio a palmas, como “fofos e bravos” (algo bastante distante das dezenas de horas usando uma visão peculiar do escotismo na TV).
A partir daqui, o que ocorreu foi bastante curioso. Dirigentes foram às redes sociais congratular a ENIC (Equipe Nacional de Imagem e Comunicação) pelos 10 segundos que Bial dedicou aos escoteiros. Deram por certo que a equipe (mesmo na ausência do único profissional de comunicação contratado pela associação) foi a responsável pelo que eles consideraram um “grande serviço”, referindo-se às palavras do apresentador.
Não faz falta mencionar que os escotistas (“chefes”), os quais igualmente mandaram e-mails e se colocaram em contato com a emissora, sequer foram lembrados pelos dirigentes. Somente a ENIC, a mesma equipe que idealizou o vestuário, recebeu o mérito com direito a “eles [a ENIC] deixaram amigos e família para trabalhar no caso neste fim de semana” – parece que desconhecem que a base escotista faz o mesmo durante o ano inteiro.
bbb

Quando o BBB deixou em evidência nosso problema.

Desde que o castigo alla escotismo foi colocado em prática pelo programa até a reação dos escoteiros, saltam à mente algumas questões.
Os escoteiros tendem a reagir de forma exacerbada a alguns assuntos, principalmente àqueles onde se coloca em dúvida suas atividades. Não só discordam de uma notícia como também insultam a emissora, ofendem o repórter e condenam os veículos de comunicação. Um exemplo disso foi a questão da homossexualidade publicada pela revista Isto É ou a ridicularização com a qual nos trata a imprensa política paranaense graças a um político-escoteiro que temos em nossas fileiras.
Prevendo isso e levando em conta o case  “Coca-Cola x Porta dos Fundos”, este blog até arriscou a produzir uma peça (usando imagens disponibilizadas pela WOSM e pela associação nacional) para responder de uma forma divertida e menos ofensiva.
Porém, como o assunto havia sido supostamente resolvido pela ENIC, a ideia acabou sendo postergada.
Os escoteiros, no entanto, parecem ser uma mescla de júbilo e desgosto quando se veem nos meios. “Júbilo” porque, quando aparecem em algum meio de comunicação, acreditam que o escotismo tem algo de inserção na sociedade, tal qual prometem e juram algumas autoridades escoteiras diante de suas ações esporádicas e diante de nosso efetivo que carece de representatividade. “Desgosto” porque acabam percebendo que os meios os tratam com piadas e burlas justamente porque não têm, ou tem pouca, relevância dentro do país. E, partindo disso, os escoteiros partem ao confronto (as ações judiciais, os gritos, as ofensas) porque os meios estão mexendo com aquilo que talvez seja sua a única realização de vida: o movimento escoteiro.

O BBB não usou o novo vestuário

À margem do reality, a associação nacional e os dirigentes que a compõem não medem esforços em fazer valer este novo vestuário idealizado pela ENIC há quase um ano. Além de eliminar qualquer argumento contra o novo vestuário com a ideia de não voltar atrás na decisão em incluí-lo (vide ata nr. 68 do CAN), algumas peças publicitárias foram usadas para promover esta roupa, seguidas de outras manobras com teor duvidoso. Vejamos algumas e reparem nos indícios de corporativismo:
  • A associação nacional publicou uma literatura oficial da WOSM em português – Representando o Movimento Escoteiro. O texto, em determinado capítulo, trata o “scout uniform” (uniforme escoteiro) como “vestuário escoteiro”, numa clara tergiversação da tradução e clara propaganda ao novo vestuário idealizado pela Equipe de Imagem e Comunicação (ENIC). Um dos revisores deste livreto é diretor da ENIC e o livreto foi publicado pouco tempo depois da entrada do novo vestuário.
  • Antes de falar em novos vestuários, a associação nacional decidiu incluir uma nova flor de lis, que supostamente só seria usada em papelaria e camisas de delegações – o que não se mostrou, com o passar do tempo, a representação da verdade. A associação nacional, ao contrário de outros países, não abriu qualquer processo licitatório ou ao menos um concurso de desenhos. Decidiu contratar, em pro bono, uma empresa de publicidade. A empresa responsável pela elaboração desta nova flor de lis, segundo o Manual de Identidade Visual, foi a de dois dirigentes institucionais escoteiros. Um deles, por certo, era diretor (novamente) da Equipe Nacional de Comunicação, a ENIC. Ponto para o portfólio.
  • No ano passado, tivemos uma novidade no site da associação nacional: a entrevista ao presidente de um órgão da instituição. Até então, nenhum presidente deste órgão havia dado uma entrevista nestes moldes. Entendeu-se, portanto, que a ação era mesmo para promover a imagem do novo representante dessa cadeira. O presidente era (e ainda é), outra vez, um dos diretores da Equipe Nacional de Imagem e Comunicação, a ENIC, e a entrevista, pasmem, foi divulgada semanas depois do lançamento do novo vestuário.
  • Este ano fomos surpreendidos por uma indicação de um brasileiro para um cargo na Região Interamericana. A indicação, notem, é da alçada da nacional e não passou por qualquer processo de candidatura. O brasileiro em questão já assumiu o cargo e é, como sempre, um dos diretores da Equipe Nacional de Imagem e Comunicação, a ENIC. A indicação ocorreu agora, justo quando esta equipe começa a ter sua imagem questionada diante do desgaste promovido pelo vestuário.
  • Durante o ano passado, vários foram os artigos que estamparam este blog e que falavam sobre o fechamento de páginas em redes sociais, sobre ameaças de demandas judiciais a quem fazia artesanato com temática escoteira, sobre o impedimento de um escotista em produzir aplicativos ensinando a fazer nós e comida mateira. Todas e cada uma destas ações foram perpetradas pela Equipe Nacional de Imagem e Comunicação, a ENIC, sob o argumento de que a a palavra “escoteiro” é “patrimônio da instituição e não de um associado”. Relevemos?
  • A associação nacional resolveu, e com razão, profissionalizar o departamento de comunicação do Escritório Nacional. Para isso, além dos designers, contratou um assessor de imprensa. Com isso, esperava-se que o cabide de cargos na Equipe Nacional de Imagem e Comunicação (ENIC) diminuísse. Não diminuiu. Aumentou de 7 para 15 indicados e, novamente, não houve processo de candidaturas.
  • O reality show Big Brother Brasil mencionou os escoteiros durante horas, numa espécie de tom de chacota. O apresentador do programa reaparece e, durante 10 segundos, se refere aos escoteiros com algumas loas. Todos os créditos, mesmo sem comprovação, são dados à Equipe de Imagem e Comunicação (ENIC) – a mesma, lembremos, que idealizou o novo vestuário.
  • A ENIC afirma que o novo vestuário foi incluído no escotismo graças a uma pesquisa realizada entre 2010 e 2011, onde os “jovens foram ouvidos” – mote muito conhecido pelos escoteiros. Passados dois anos, a pesquisa ainda não foi divulgada. Por ironia, os mesmos jovens que a ENIC diz ter consultado são os que estão organizando uma manifestação no centro de São Paulo por não se sentirem representados pelo novo vestuário.
Chegado a esse ponto, que apenas mostra, convenhamos, a ponta do iceberg, pergunto aos leitores: qual é a necessidade de uma equipe quando, como comprovado, só vem trazendo desgaste para a associação e usando 80 mil associados para laboratório de suas ideias? Qual é a necessidade se já há, na equipe do escritório nacional, profissionais contratados para a tarefa?
Talvez a necessidade passe por esse novo valor que o escotismo ganhou: 10 segundos com Pedro Bial.

*Nota publicada hoje (24/02, manhã de segunda) pela nacional: “Aos associados dos Escoteiros do Brasil. Em face de situação ocorrida no programa BBB 14, veiculado pela Rede Globo de Televisão, o qual utiliza de forma equivocada a imagem do Escotismo, cumpre-nos informar que as medidas necessárias e adequadas já estão sendo implementadas. Oportuno, ainda, esclarecer que a utilização deu-se sem o conhecimento de nossa instituição.”
Publicação/Edinho Soares - Reportagem/Café Mateiro - Um Blog Sobre Escotismo